Friday, July 26, 2013

Convulsão e concordância verbal

Não fui eu - quem teve a convulsão.
Sim, a convulsão, o ataque epilético.
A que assisti hoje de manhã;
"ô da guarda!
o cara tá ficando roxo. O cara tá mal.
ô da guarda."
(som de bate grade)
A guarda larga o crochê que fazia e liga para a enfermaria dizendo - com toda a calma do mundo: vem logo, o vagabundo tá nervoso, não quer esperar (clichês kind of Eichmann).
Eu vou para o atendimento - de outro 'vagabundo'.
E atendo o 'vagabundo' ouvindo os bate grade e os gritos dos outros 'vagabundos'.
Quando volto da sala do atendimento, há um corpo estendido no colchão. Virado de lado, tremendo, convulsionando.
Os que gritavam "ô da guarda" estavam cuidando do 'vagabundo' convulsionado - para que, ao menos, o 'meliante'  não asfixiasse com a própria baba.
 A cena foi terrível - corpo deitado de lado, pernas tremendo, olhos REM.
Corpo sendo levado por outros colegas de infortúnio à viatura - direto para o hospital.
É, o vagabundo estava com pressa.
Justificativa: "na fila do SUS, morreria"
(...)
Hoje me sinto em.
Convulsão.
E.
Epilética.
(...)
Na mesma manhã - a respeito de outro fato - a cachorra-bicho-arisco-preta

Não era eu que estava praticamente enforcada.
E com frio - quase congelada - hoje de manhã.
Mas fui eu quem tirou a corrente do pescoço que nem a permitia deitar. E levou uma cobertinha.

Agora(...), sou eu quem segue com frio. E meio que enforcada.

(...)

Lembrar é bom. Na estrada, lembra-se. Em casa também. Muito.
Esquecer deve ser melhor.
Esquecer de tudo isso - e o mais.
Convulsão, enforcada, frio.
.
é que eu nunca soube concordar o 'eu' com o 'quem' ou o 'que'.

No comments: