Tuesday, July 30, 2013

Sem mais


http://www.youtube.com/watch?v=xLFItHLpzQ8

(...)
"Lê meu nome como quem desvenda o milhão de pensamentos surgidos aos picotilhos em minha mente. Lê meu nome como quem não conhece o significado do vocábulo picotilho, mas preferes imaginá-lo a busca-lo na verdade dos dicionários.
Lê meu nome recôndito nos grãos das areias dos desertos que, de quando em quando, atravessas queimado pelo rachar do sol em tuas costas.
Lê meu nome não como o fácil de ser lido, mas sim como o de leitura não impossível.
Lê meu nome em todas as reticências e eteceteras dos meus falares.
Lê meu nome em todos os meus silêncios, pois os meus barulhos não bradam o meu verdadeiro nome.
Lê meu nome como se estivesses perdendo o tempo que reservaste para importantes afazeres, portanto, deixarás meu nome de lado, para, quem sabe, uma leitura de outra ocasião.
E, deixa-te levar por aí ao leres meu nome...
E, por fim, como derradeira súplica...
... lê meu nome como se estivesses esquecido de algo que jamais darias por falta...
(...)
Lê meu nome como o de alguém que te ama, te amou e te amará.
E que colocou o pretérito no meio do presente e do futuro.

(...)
como aquele membro desprovido de funcionalidade.

(...)

Terminando essa conversa internética - que-eu-sei-que-vês-e-tu-sabes-que-eu-vejo. Esse dito pelo não dito para quem não tem coragem de se encarar - frente a frente, olho no olho -  e encarar que o para sempre e o eterno pode ser uma forma de fazer a realização do amor mais impossível do que - de certa forma - é.
Isso não é, de forma alguma, como se estivesse apontando o dedo apenas a ti. Aponto a mim, o mesmo dedo.
Sim, aponto.
Eu também acabei fazendo do para sempre o sonho. E, com ele, construí o impossível.
Impossível ao menos com esse fardo do para sempre.
Todo bicho arisco precisa do eterno, já dizia CFA.
"um bicho arisco vive dentro de uma espécie de eternidade. Onde pode ficar parado para sempre, mastigando o eterno. Para não assustá-lo, para tê-lo dentro dos seus dedos quando eles finalmente se fecharem, você também precisa estar dentro dessa ilusão do eterno".

Só que, quando se lida com o eterno, estamos sempre prestes. Estamos sempre quase. Nunca estamos ali. Naquele momento. Porque o momento sempre visa ao eterno e o eterno ainda não aconteceu e ele está sempre prestes. Embora tudo pareça uma construção do eterno. Não, tudo é uma construção do quase, do prestes a.

Pois. Terminando essa conversa internética de que eu sei que me vês mas estás invisível e  tu sabes que eu te vejo mas eu estou invisível:

Este é meu último post.
Tentarei, ao máximo, não olhar mais os teus próximos. Se bem me conheço, sei que não olharei.

Agora, passado 'o dia'.
O fim do ciclo.
O novo ano quase ali - e que venha a estreia do mês dos cachorros loucos. Porque dizem que é em agosto que eles chegam.
Para mim, é em agosto que eles vão.
"depois os cachorros foram embora
eu voltei ao meu chá
e lá fora a solidão
e uma flor quase despercebida"

A partir de agora - virtual, não  - escreve-se no caderno.
E, quando for o momento para conversa - será real.
Olho no olho.
Cara a cara.

E sei que um dia poderei 'epigrafar' meu caderno com isto: "o verão acabou. E começo a ler para eles o que escrevi durante o tempo em que se batiam pela casa."

Obrigada por tudo.
A você dedico a Nação Chinesa - de pessoas chinesas (é claro).
<3

Monday, July 29, 2013

Friday, July 26, 2013

...


Convulsão e concordância verbal

Não fui eu - quem teve a convulsão.
Sim, a convulsão, o ataque epilético.
A que assisti hoje de manhã;
"ô da guarda!
o cara tá ficando roxo. O cara tá mal.
ô da guarda."
(som de bate grade)
A guarda larga o crochê que fazia e liga para a enfermaria dizendo - com toda a calma do mundo: vem logo, o vagabundo tá nervoso, não quer esperar (clichês kind of Eichmann).
Eu vou para o atendimento - de outro 'vagabundo'.
E atendo o 'vagabundo' ouvindo os bate grade e os gritos dos outros 'vagabundos'.
Quando volto da sala do atendimento, há um corpo estendido no colchão. Virado de lado, tremendo, convulsionando.
Os que gritavam "ô da guarda" estavam cuidando do 'vagabundo' convulsionado - para que, ao menos, o 'meliante'  não asfixiasse com a própria baba.
 A cena foi terrível - corpo deitado de lado, pernas tremendo, olhos REM.
Corpo sendo levado por outros colegas de infortúnio à viatura - direto para o hospital.
É, o vagabundo estava com pressa.
Justificativa: "na fila do SUS, morreria"
(...)
Hoje me sinto em.
Convulsão.
E.
Epilética.
(...)
Na mesma manhã - a respeito de outro fato - a cachorra-bicho-arisco-preta

Não era eu que estava praticamente enforcada.
E com frio - quase congelada - hoje de manhã.
Mas fui eu quem tirou a corrente do pescoço que nem a permitia deitar. E levou uma cobertinha.

Agora(...), sou eu quem segue com frio. E meio que enforcada.

(...)

Lembrar é bom. Na estrada, lembra-se. Em casa também. Muito.
Esquecer deve ser melhor.
Esquecer de tudo isso - e o mais.
Convulsão, enforcada, frio.
.
é que eu nunca soube concordar o 'eu' com o 'quem' ou o 'que'.

Thursday, July 25, 2013

Sobre rodas-gigante(s)


http://www.youtube.com/watch?v=NJWIbIe0N90
é, eu nunca gostei de roda gigante.

"I'll keep you locked in my head
Until we meet again,
Until we...
Until we meet again
And I won't forget you my friend
What happened?"

O HC da Tia e o corporativismo

"Vistos, etc. Compulsando os autos, observei que o feito em tela aguarda tão somente a oitiva de uma testemunha para o encerramento da instrução. No entanto, a oitiva desta testemunha é aguardada há alguns meses, motivo pelo qual, REVOGO a prisão preventiva de E.F.M.M, e concedo sua liberdade."   

Pois é, Dra. Homônima. Depois de voltar à terra diante da liberdade da Tia e pensar que, neste momento, ela deve estar afofando o neto, penso em outras coisas. Aliás, coloco-me algumas, para depois me perguntar:
O Des. recebeu o HC e não concedeu a liminar - em 16/07.
Na mesma data, requisitou informações ao juízo de primeiro grau.
Tchan!
Quanto a Dra. foi requisitada para prestar informações ao TJ (na mesma data - 16/07), aí que, miraculosamente, resolveu compulsar o autos e observar?
Observar a explicação que teria que dar ao TJ e... ao CNJ?
É que não tem explicação, não é mesmo, Dra.?
Seus canetaços não têm fundamento.
Nem mesmo os de liberdade. Porque, nesse caso em especial, a Dra. devia (no mínimo) 'conceder' a liberdade juntamente com um pedido de desculpas.
Voltando ao HC -  é claro, diante da óbvia perda do objeto, e, da possibilidade de não gerar precedente em excesso de prazo - 1 ano e 1 mês de prisão preventiva, processo praticamente parado há 06 meses aguardando a oitiva de PM a pedido do MP - .............................................................
o HC foi concluso ao relator quase que imediatamente e será julgado no que se chama de prazo razoável.
Agora que desci à terra, posso perguntar:
é corporativismo?
ou eu sou paranoica?

 

Wednesday, July 24, 2013

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=mzn-Ht_PEw4#at=69

Pena: .......
Início: .
Término: ...............
Indulto: .....................................
Comutação: ....................
Progressão de regime: .............
Conselho de sentença - 'de mim para mim mesma': 'Rói'. Ou: senta.
E, de mim, para mim mesma: (...) é que tuas palavras são impassíveis de definição;
teus passos caminham rumo ao nada;
teus desejos não têm moral;
teu silêncio diz nada;
tuas frases silenciosas carecem de alma.
(...)

Friday, July 19, 2013

Dia fofo

Fofo porque.
Também.
É que ganhei, inesperadamente, essa música de presente - e o Oásis de Bethânia..

"Medo não me alcança
no deserto me acho
faço cobra morder o rabo
escorpião virar pirilampo
Meus pés recebem bálsamos
unguento suave das mãos de Maria, irmã de Marta e Lázaro
No oásis de Bethânia.
Pensou que eu ando só
atente ao tempo
não começa nem termina, é nunca, é sempre
É tempo de reparar
na balança de nobre cobre que o rei equilibra
fulmina o injusto, deixa nua a justiça
(...)
Sou como a haste fina que qualquer brisa verga
mas nenhuma espada corta"
E aí que hoje foi um dia fofo.
E aí que, hoje, não ouvi clichês tipo Eichmann - ao menos no mundo real.
E aí que, aproveitando a revolução do nu no espaço público, hoje, devido ao adiantado da hora,  recebi o cadeado da praça ao lado - que é um espaço público, portanto, PÚBLICO - e não o bati. Aliás, bati, mas deixando uma grade aberta.
Aliás, desde quando uma praça da prefeitura tem grades?
Nós não temos jaulas o suficiente?
Ah, porque os maconheiros vão se esconder atrás dos bambus para fumar maconha.
Ah, claro, os maconheiros são menos cidadãos do que os que moram no prédio "Maiojâmico" à frente.
Sim, eles são meliantes, vândalos.
Já, no mundo virtual, uma ex-futura candidata a vereadora filiada ao 'iai, beleza?' respondeu uma pergunta 'inocente' que fiz.
A resposta foi pobre. Eu, num ápice de misericórdia pela ignorância, poderia dizer:  foi triste.
Ela falou algo do gênero: a competência a respeito do passe livre é do Executivo. Eles deviam ter invadido o Executivo.
Curioso o termo usado por uma (tomara que não) futura vereadora. "Invadido".
Seria possível o povo "invadir" algo que é seu?
Olha, eu sei pouca coisa.
Mas eu sei que o termo 'invasão' pressupõe' algo que não é seu de direito.
Dra.
Vejamos - em Sócrates. Nem vou invocar Platão porque talvez seja demais para a sua cabeça pobre.
A Câmara é do povo.
O povo é pelado.
Logo.
A Câmara é dos pelados.
Pronto.
Ágora.
Ah, se o povo soubesse que o espaço público é PÚBLICO por excelência.
Chega de grades, chega de barreiras.
Já não temos grades demais?
Se duvidar, daqui a pouco os espaços públicos estarão resumidos a isto (se é que já não estão).
E, quem tiver a ousadia de lutar por eles, passará boa parte de sua vida nisto (se é que já não está).
(pois é, essa foto é horrível. Mas é da PMEC, num dia fofo. Imagine-se em um dia não fofo)




Jung

E então, a pessoa coloca bilhete para ser atendida e, por falta de papel, rasga a folha de um livro para se fazer ouvir e pedir o atendimento.
Quando li, a primeira coisa que me veio à cabeça: Jung, VTF!

Aliás, vamos falar em vandalismo?

Vândalos!

Thursday, July 18, 2013

Vinte e nove

http://www.youtube.com/watch?v=MxFIQRoE-mA
Em homenagem ao Jackson - que amanhã completará 29 anos. Não 29 anos de prisão, mas 29 anos na prisão.
Que, aos 29, ele consiga viver. Em LC, que está próximo.
Como diria meu amigo Adriano: mais um episódio de "tratamento penal" - versão brasileira AIC São Paulo.
Um bombom. É o tratamento penal para o momento, enquanto o LC não sai. E os "causos da VEC" não andam. 
Na verdade: é para todos os vinte e nove desse mundo - o bombom.
Bom.
Bom.
(...)




 




Wednesday, July 17, 2013

Forasteira

http://www.youtube.com/watch?v=PvGUB2wCUU8

Apátrida.
Velho de mim.

“Lessing tinha opiniões altamente não ortodoxas a respeito da verdade. Recusava-se a aceitar quaisquer verdades, mesmo as presumivelmente enviadas pela Providência, e nunca se sentiu compelido pela verdade, fosse ela imposta pelos processos de raciocínio seus ou de outras pessoas. Se fosse confrontado à alternativa platônica entre a doxa e a aletheia, a opinião ou a verdade, não há dúvida sobre qual teria sido sua decisão. Estava contente que – para usar a parábola – o anel verdadeiro, se é que algum existia, se perdera; estava contente em consideração pelo número infinito de opiniões que surgem quando os homens discutem os assuntos deste mundo. Se o verdadeiro anel existisse, significaria o fim do discurso, e portanto da amizade, e portanto da humanidade. “
Hannah Arendt - Homens em tempos sombrios

Ainda bem que existem pessoas que conseguem escrever magistralmente sobre desconstruções/ausência de definições. Fazem com que eu me sinta menos louca. E menos ansiosa.
Voltando para a Hannah - sim, nas duas últimas frases eu não estava, necessariamente, referindo-me à sua obra. Bem,  agora estou: coisas com as quais me deparo todos os dias - "'Minha única língua é o oficialês'. Mas a questão é que o oficialês se transformou em sua única língua porque ele sempre foi genuinamente incapaz de pronunciar uma única frase que não fosse um clichê (Será que foram esses clichês que os psiquiatras achavam tão 'normais' e 'desejáveis'?). - Eichmann em Jerusalém.

Monday, July 15, 2013

...


Não me espere pois eu não parti

http://www.youtube.com/watch?v=eCdTc3kRMV0

http://www.youtube.com/watch?v=aaEex8bu_gU
Eu, às vezes, coloco teu perfume (aquele restinho que deixaste aqui) nos punhos, antes de dormir. Aliás, tem vezes que só assim para eu dormir.

Tem um Frutilly no freezer. Uma vez compraste dois, eu comi um e não comeste o teu. Esse daqui é mais gostoso que o do posto, e é teu.

‘A grande perda’ – disseste.

Bem, pra mim é ‘a perda’.

Eu tinha tanta coisa para te dizer hoje à tarde.

Mas acho que meus olhos disseram.

É, não há quem possa entender.

Seguirei, como quem segue e ainda assim é esperada.

Sigo e te sigo.

Saturday, July 13, 2013

Union Y Libertad

 "sem se tomar partido; sem ser 'isto' ou 'aquilo' ou, pior ainda, 'isto' versus 'aquilo'".
 

Eu e minha liberdade que não sei usar...

... mas a uso para tentar a de outros.
Aproveitando a aula de hoje, com o Timm de Souza (e o Jung sorrindo, de longe):
"A base da questão da liberdade não é, portanto, ontológica – o que é a liberdade? – mas ética – o que foi feito, a ação, positiva ou negativa a autocompreensão da humanidade do humano, ou a vitalidade da vida? A ausência científica de plausibilidade de algo como uma “essência livre” não invalidade a existência e persistência da liberdade enquanto eticidade realizada – a prova disso é, por exemplo, a ainda vigência de processos éticos corretivos da iniqüidade ou, para falarmos com Derrida, uma “loucura” pela justiça coetânea ao ser humano em todas as eras, ou ainda, de forma cabalmente simples, pela impossibilidade de que, em nossa vida, ninguém, por atos e não por conceitos, tenha agido eticamente em relação a nós, ou não estaríamos vivos (podemos negar a liberdade o quanto queiramos, mas não podemos negar que, em nosso passado, nossa vida foi promo-vida por atos que viabilizaram nossa existência até agora, e estes atos não são ocorrências ao acaso, mas fruto da vontade de pessoas). A loucura pela justiça, ou seja, o chamamento ético fundamental das ações que se traduz em sua ocorrência inegável, reduz as aporias da liberdade abstrata promulgada a um status de quase-dispensabilidade cognitiva, na medida em que se constitui como elemento precípuo de sub-stância que, sub-jazendo às ações, dispensa as adjetivações tradicionais nas quais a palavra “livre” é normalmente compreendida. Em suma, um ato não é primariamente livre, mas primariamente é ético ou não-ético (não-neutro), e, se é ético ou não-ético, é livre no seu destino ético, na realidade da obra em que culmina, independentemente do que a ciência ou a filosofia possam dizer a respeito da idéia de liberdade. Essa é uma solução da questão da liberdade que, sem tentar escapar às teias do cientificismo – como as soluções filosóficas tradicionais – se estabelece em um outro registro de realidade, onde a questão não é o problema teórico da liberdade, mas o estatuto ético das ações – uma formulação algo modificada da liberdade investida de que fala Levinas. A liberdade é, assim, essencialmente subalterna à ética.
E o Derrida falando comigo, hoje: "E assim, não podendo fazer com que aquilo que é justo fosse forte, fizeram com que aquilo que é forte fosse justo".
De qualquer maneira, Tia = boa sorte pra nós.


Friday, July 12, 2013

Horrível

Horrível o que vou escrever.
Mas não posso deixar de.
Pois, além de horrível, o fato é, no mínimo, curioso.
Eis que,  um rapaz, ao que consta, dirigia em velocidade não compatível e alcoolizado, quando  foi tentar desviar do quebra-molas - colocado em frente à Gerdau de Charque City - e acabou atropelando dois PMs e matando um deles.
Logicamente, o rapaz está preso preventivamente - de ordem da Dra. Aquela (a homônima da cantora).
Logicamente, será denunciado por homicídio doloso (dolo eventual, lógico, eles adoram).
Sim, o rapaz está lá, meio que sem entender o que está acontecendo.
O fato curioso é: os dois PMs foram enviados ao local por ordem da Dra. Aquela.
Logicamente, para a 'garantia da ordem pública' (ela adora esse termo), já que, no dia programado para a tal greve geral, era possível prever  que vários meliantes deviam estar se preparando para tocar o terror em Charque City.
Pois bem.
Será que não poderíamos denunciar a Dra. Aquela por homicídio doloso (dolo eventual, lógico), já que os PMs jamais estariam ali se ela não os tivesse enviado?
Até mesmo porque, de acordo com a cabeça da dita cuja, o iter criminis é algo facilmente construído e passível de segregação cautelar.
Enfim, nessa noite de sexta, só me ocorre pensar:
No rapaz, que acabou de entrar para as estatísticas da redundância.
Nas famílias dos PMs.
Todos esses entraram de gaiato.
Quem não entrou de gaiato na história?
Eu sei.
Não acredito em deus, mas parece castigo.
Tantas vidas ceifadas e amputadas pelas mazelas do cárcere por causa dos canetaços desarrazoados da dita Dra.
Sei lá.
Só sei que é horrível.
Por isso, para tentar aliviar meu-sentimento-sei-lá-o-que nessa noite de sexta, farei um HC  - que já deveria ter feito há tempos. Quem sabe a "tia' vai para casa conhecer a neta?
PS - Sim, essa briga tornou-se meio que pessoal.




Wednesday, July 10, 2013

Todo lanhado


Reservo-me ao direito de falar sobre esse momento depois.
Mas não.
Registro agora porque.
Porque é curioso e horrível o fato de eu ter ficado extremamente constrangida de ter que pegar uma almofada de carimbo e fazer o 'lanhado' se desdobrar para colocar o dedão nela - sim, ele estava algemado para trás - e, depois, no digníssimo papel do email com a determinação de Vossa Excelência.
Não, não foi horrível o fato de eu ter ficado constrangida.
Horrível o fato de Vossa Excelência determinar que eu fizesse isso. Vossa Excelência sabe - ou deveria saber (se não sabias, agora sabes) que o lanhado é analfabeto.
Horrível é o fato de eu ter que fazer as vezes de oficial de justiça para dar ciência de uma decisão com a qual eu não concordo.
Horrível é o fato de existirem analfabetos.
Horrível é o fato de o analfabeto dizer: não te preocupa, dona. Pega a almofada que eu coloco o dedo - tô acostumado.
Horrível é o fato de ele não ter sido cientificado da decisão - aliás, cientificado ele foi, o problema é a aceitação  de uma decisão de manutenção de prisão preventiva para um crime punido com pena de 'detenção' (sim, fodam-se as medidas cautelares diversas da  prisão)
Como se não bastasse - foi uma 'agente do aparato punitivo'  a portadora do comando judicial que, por mais simpatizante à causa dos 'redundantes' e  defensora dos direitos humanos, sempre será uma agente do aparato punitivo imbuída na tarefa do indefinido 'tratamento penal' (e que acredita que tratamento e pena são vocábulos incompatíveis entre si, portanto, jamais poderiam ser colocados numa mesma expressão, muito menos ser suficientes para instaurarem um departamento próprio dentro do serviço público, muito menos ainda para legitimarem a criação de um cargo).
Horrível é o fato de ele sair sorrindo da sala, achando, talvez, que teve uma resposta, que o juiz se preocupou com ele.
Horrível é.
É ter sido fraca e não ter dito ao Excelentíssmo: determina a quem, cara pálida?
Vem aqui e diz o que o teu colega de toga decidiu a respeito da vida do 'todo lanhado'. Senta na frente dele e tenta não te consumir quando ele chegar na salinha de bermuda e havaianas com meia e o blusão de lã que era do meu primo.
Quando estiveres terminado de  ler o despacho para ele e, tentando explicar o que significa o floreio do juridiquês, e relutando - pois sabes que chegará o momento de pedir para ele se dar por ciente - já que sabes que ele não sabe nem assinar o nome - e sabes que não saberás o que fazer porque sabes que no fundo és um burocrata e que poderias ter dito para ti mesmo que os 3 poderes são independentes e harmônicos entre si e que não precisas cumprir uma determinação judicial pois não és subordinado ao poder que emana da toga.
Não, não sabes.
Nem eu.
Muito menos ele.
Por isso a digital está aí.
E ele segue todo lanhado. E analfabeto.
E, por fim, sobre o 'devendo ser remetida uma cópia digitalizada..', valho-me do Maffesoli: "O que 'deve ser' tem frequentemente conduzido às piores tiranias'.
E eu fiz parte dela.
Aliás, eu faço.
Próxima determinação necessária, Vossa Excelência: Durma-se.

Tuesday, July 09, 2013

Fator Julia Roberts, pelo autor, is dead.

http://www.conjur.com.br/2013-jul-09/diogenes-ribeiro-mulheres-sao-obrigadas-levar-drogas-presídios

http://www.conjur.com.br/2013-jun-25/tentar-entrar-presidio-droga-escondida-nao-crime-decide-tj-rs

Lênio, depois dessa, nem mais 'a lealdade ao autor' do fator Julia Roberts faria eu ler o que escreves e escreverás.
Mas, de qualquer sorte:
R.S. - uma querida. A índia. Tinha pelos no rosto, como eu. Sentou à minha frente, pela primeira vez, e queria 'puxar as remição'. Ela nem tinha PEC ainda, embora tivesse sido julgada e condenada pela juíza homônima da cantora-brega-sertaneja-universitária a 5 anos de reclusão por um 'crime'  - ressalte-se, não consumado (e que não admite a forma tentada, ou seja, perdido no iter criminis) - há quase 4 meses. Desenvolvemos uma relação, na medida do possível, no passa-prato do refeitório da cadeia, na enfermaria (local no qual consigo atende-las com certa privacidade), entre algemas, lágrimas, passadas pelos corredores diante dos olhos atentos e desaprovadores da antiga direção que dizia que presa tinha que ser atendida na sala de atendimento (apenas no sentido de saciar a sede insaciável da burocracia).
Passou um tempo, formou-se o Pec da Índia. E, quando isso aconteceu, ela já estava quase implementando o lapso para progressão de regime - note-se, sem ter sido condenada com trânsito em julgado, e sem o cômputo da remição de pessoa que, desde que entrou no sistema carcerário, trabalhou, cozinhou para a administração, fazia pastéis maravilhosos, bolinho de chuva. Sempre sorria, só que meio enviesada, meio querendo chorar, meio com olhos que ilustram as misérias do mundo,   meio que só.
Sim, falava do PEC - provisório. Quando formou o dito, vimos que poderíamos entrar com o pedido de progressão de regime no dia 17/06. Ansiosa (eu, claro) porque sei que o tempo é o senhor do castigo e o castigo é o senhor do tempo e essas coisas demoram mesmo, sugeri de fazermos o pedido lá pelo dia primeiro de junho. E, nesse meio tempo, havia a apelação a ser julgada. Resolvi olhar - sim, a India não pedia as coisas. Ela ficava lá fazendo feijão e pastéis.
O Relator seria o Diógenes. E, como em todas as consultas de processo que entrego a elas que estão na 3ª ou 5ª Câmara, eu não me aguento - desenho uma carinha sorrindo ao lado do nome do relator. Foi o que fiz na consulta da apelação da India quando fiz a pesquisa - que passei às mãos dela pelo passa-pratos do refeitório, como quem passa um banquete, como quem passa uma esperança, um algo abstrato que não os pratos sujos que elas estão acostumadas a receber por aquela 'janelinha'.
Depois que assinou o pedido de progressão, ela não pensava mais tanto nos pastéis. Pensava na filha, na vida a ser retomada, pensava no semiaberto.
Eu dizia: tu não vais para o semiaberto. Tu vais sair daqui, andar pela estradinha e pegar o Vitória. Vais pra casa.
Ela não acreditava.
Eu me culpava, às vezes. "Não coloca expectativa na guria. Daqui a pouco o Des muda de entendimento."
Mas não.
Uma vez ela me disse: a apelação vai ser julgada três dias antes do meu aniversário.
Marquei: dia 10 é o aniversário dela.
E o troféu sem noção dos últimos dez anos pensou em comprar um bolo e fazer com que todos os que se deliciam diariamente por meio  dos quitutes da India cantassem parabéns na manhã do dia 10. Seria o mínimo.
Mas não.
É que, na cadeia, as coisas são um pouco diferentes. Por mais que se tente negar, há um muro imaginário ali dentro.
Imaginário na cabeça de quem imagina. Não, necessariamente, na minha - que imagina muito, mas não esse muro dentro de um muro.
O bolo ela teve, no dia 10. Dia em que ela completou 27 anos - na salinha do jurídico. Ganhou o bolinho, só não ganhou parabéns cantado, nem soprou velinha.
Porque esses mimos ela teve no dia 14, quando saiu em liberdade.
Um dia antes, ela pediu para falar comigo, na enfermaria. Disse: 'nunca mais vou esquecer da senhora'.
Foram as últimas palavras dela, pra mim.
Na hora, me faltou o discurso - sim, fico constrangida em ser chamada por esse tipo de expressão de tratamento (ok, não foi só por isso).
Foi porque.
Porque eu queria, de fato, ter dito: India - espero, de coração, que esqueças de mim. Que passaste um dia por esse lugar.
Que  foste determinada a ser a carta fora do baralho de um jogo podre e perdido desde muito antes de nós virmos ao mundo.
Que, naquele dia em que estavas no banheiro do boteco beira de estrada pensando se farias ou não, o aparato punitivo já estava preparado e armado para te pegar como bode expiatório das mazelas do mundo. Não tiveste chance - ao menos naquele momento.
E que eu sei que podia ter sido eu a carta fora, o bode - afinal, também tenho pelos no rosto.
Podia ser o Lênio.
Ou a Julia Roberts.
"Roleta russa de loucos"
E, que bom que o Diógenes e alguns (apenas, que pena) poucos sabem disso.
O Lênio costumava saber. Vai ver que esqueceu.
(...)

É, India: "nos deram espelhos e vimos um mundo doente".